segunda-feira, dezembro 13, 2010

para o anônimo

Poréns: Texto sem revisão gramatical e sem correções apontadas pela professora (até porque eu ainda não corrigi).



O Palácio Piratini, localizado na Praça Marechal Deodoro, é a atual sede do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul. As referencias iniciais sobre a construção de um palácio governamental remetem a 1773, quando a capital foi transferida de Viamão para Porto Alegre. O resultado foi um “sobradão colonial”, chamado Palácio de Barro, visto que o material utilizado para a sua construção foi taipa. Rapidamente o prédio foi se mostrando inadequado e pequeno demais para as necessidades da capital.

O primeiro projeto que começou a ser aplicado para o novo palácio governamental, a mando do presidente Júlio de Castilhos, em 1896, foi de Affonso Dinis Herbert. Sua proposta tinha uma nítida inspiração renascentista e começou a ser implementada com a demolição do Palácio de Barro, em 1896. Os atrasos e críticas ao projeto acabaram por fazer o presidente Carlos Barbosa Gonçalves a abrir um concurso para o projeto, em Paris. Houveram dois inscritos, mas ambos foram negados. Foi então que o presidente pediu diretamente um novo projeto a Maurice Gras, um arquiteto francês que provavelmente se encontrava em Porto Alegre.

No projeto de Maurice Gras, a adoção de pressupostos vinculados à composição clássica foi bastante intensificada. Porém, diferente dos demais, Maurice Grass estabeleceu em seu projeto, uma sensível separação entre as funções do palácio, inexistente nas propostas anteriores. Assim, a parte vinculada à atividade governamental ocupa o bloco da frente da rua, já a residencial, ocupa a parte de trás. Ambos os blocos são unidos por um jardim interno. Outra proposta no projeto de Gras que o diferenciou dos outros projetos foi a monumentalidade. Segundo o historiador Arthur Ferreira Filho, o Palácio Piratini seria “um monumento arquitetônico capaz, por sua monumentalidade, de estimular a iniciativa particular, confiante em que o novo Palácio daria a medida do grau de progresso do Estado do Rio Grande do Sul”.

Esse aspecto pode ser facilmente observado pelo destaque que o prédio obtém hoje. Tanto os pedestres quando os carros não alcançam nem a base dos imensos pilares na fachada do prédio, por exemplo. As colunas de ordem jônica (que no caso, são levemente modificadas e adaptadas por características do Neoclassicismo), aparecem nos pilares porque talvez a ordem dórica tenha parecido muito severa aos governantes, e a jônica estaria na justa medida. A sucessão de colunas monumentais transforma a entrada numa espécie de grande pórtico, ressaltando a monumentalidade do prédio.

O prédio, diferentemente dos outros projetos, é bastante compacto, e tem um contorno muito nítido. A edificação apresenta uma menor presença de elementos decorativos. A impressão que se tem é que ele é um pesado bloco horizontal que separa um universo do outro, o “mundano” do “puro”. É um prédio muito seco, linear, de simetria central, sóbrio e sem variação de cores. A entrada é hierarquizada e identificada a partir de duas colunas monumentais, entre as quais se encontram duas estátuas. Estas duas são figuras femininas que remetem a mitologia Greco-romana, onde uma representa a agricultura e a outra representa a indústria. Trata-se de uma estatuária particularmente monumental, rígida e compacta.

A escala monumental do prédio também é notada interiormente, sendo quase um terço da área do pavimento térreo destinado a um grande hall de recepção e a uma escada imperial. Quanto ao pé direito, cada piso apresenta mais ou menos oito metros de altura.

Em termos compositivos, os preceitos clássicos podem ser observados na preocupação inicial com o todo, sem haver discriminação das partes. A existência do prédio depende tanto da parte interna como da externa. E é justamente essa conjunção entre as partes que conformaria a idéia do belo, tão prezada pelo ideal clássico, o belo apreendido enquanto a perfeita harmonia entre as partes.

A arquitetura do Palácio Piratini pode ser rotulada de eclética, um ecletismo calcado no clássico, que então estava na moda na Europa. Cabe lembrar que essas escolhas não foram por acaso, e combinam com os idéias positivistas gaúchos. Amantes da ordem e da razão encontraram nos elementos clássicos uma boa representação.

Tendo em vista as características previamente citadas, nota-se que não é por acaso que estudando a arquitetura do Palácio Piratini podemos destacar não somente um viés neoclassicista, como também podemos notar as inspirações de Maurice Gras. Ele se inspirou na arquitetura realizada na França durante o século XVIII, mais precisamente durante um período do chamado “Luís XVI”. Porém é possível notar que Maurice Gras tenta ir além, buscando também forte amparo no estilo do Primeiro Império Francês, ainda mais monumental, uniforme e rigoroso que o refinado estilo Luís XVI, quando se verifica de maneira mais acentuada a instrumentalização política do gosto pelo clássico.

Tendo em vista que a arquitetura do Palácio Piratini não foi escolhida por acaso, é conveniente comentar que o Neoclassicismo era um estilo que se tornou uma espécie de regra naquele momento, tornando-se um estilo arquitetônico conhecido como acadêmico ou academicista, compreendendo invariavelmente características de cunho eclético. Este estilo ganhou destaque também porque no Rio Grande do Sul, no final do século XIX, houve uma queda do estilo barroco português, devido a substituição pela paixão pelo estilo germânico. Isso aconteceu porque no final do séc. XIX uma grande população de origem alemã com muito poder econômico e social passou a dominar o comércio e a indústria da cidade, bem como seu lado cultural. Porto Alegre passa, então, a desprezar sua velha arquitetura, adotando arquitetos alemães, e logo após, arquitetos franceses. Isso demonstra esse desejo de afirmação da grandiosidade vigente no governo daquela época. O Rio Grande do Sul tinha uma adoração por Paris, por seus prédios, pelos símbolos utilizados. Percebe-se que os gaúchos, nessa época, sempre se espelharam na Europa para buscar sua arquitetura. Se espelharam em países mais antigos, com mais história, com mais poder e com intenção de se diferenciar do resto do país.

O Rio Grande do Sul sempre foi marcado por histórias políticas e isso é motivo de grande orgulho para o povo gaúcho. Faz parte da cultura e do mito criado por nós sobre como foi o nosso passado e como o gaúcho deve ser. A idéia presente aqui no Rio Grande do Sul é de que somos superiores. Ainda hoje ouvimos histórias sobre uma possível separação do resto do país, ouvimos que não fazemos parte do Brasil, tentamos nos excluir do território a que pertencemos.

Quando se pensa na importância que os gaúchos dão a sua história política, é possível achar no Palácio Piratini a memória viva e permanente desse poder, até os dias de hoje. O Palácio Piratini é o centro de poder gaúcho, uma aglutinação de forças sociais, um espaço de negociação para o estabelecimento de discussões e procura por um Rio Grande do Sul melhor. Um palácio como o Piratini é mais que um centro político e administrativo: apresenta-se também como um objeto cultural. Desde a sua arquitetura assinada por Maurice Gras, até seus murais de Aldo Locatelli, e as esculturas de Paul Landowiski e de Vasco Prado, é um lugar de ostentação, demonstração de poder, austeridade e honra ao passado do imaginário presente no povo gaúcho sobre a sua própria história.

A ligação feita entre uma arquitetura e o simbolismo que ela contém é clara quando se fala deste prédio. A escolha, não por acaso, de um estilo que remonta um passado glorioso, um prédio localizado na parte alta do centro da cidade, rodeado por uma instituição religiosa e outros prédios de poder, deixa uma mensagem clara: Orgulho, passado glorioso, ordem e soberania.

Analisando, chega a ser um exagero engraçado, um pouco irônico, que o gaúcho tenha arrogância em comparar seu passado histórico, através de um prédio executor de leis, com o passado de heróis míticos e conhecidos mundialmente, até hoje, pelos seus feitos. O gaúcho nunca foi um Hércules e é importante denotar que essa comparação é um tanto absurda e desequilibrada. Porém, o prédio cumpre as suas intenções perante ao povo. Continuamos notando que existe uma manutenção deste sentimento tradicionalista, uma supervalorização da história política gaúcha como sendo a mais importante de todas e que essa opinião é não só disseminada, como aceita pela maioria dos gaúchos. Se o Palácio Piratini tem a ver com este sentimento ou não, não cabe a nós decidirmos, mas é importante ressaltar que estar na frente do Palácio Piratini é sentir sua monumentalidade e sua demonstração de força e poder, sua demonstração de povo vitorioso. Desde os anjos segurando o brasão gaúcho no topo da construção, até colunas jônicas que não tem absolutamente nada a ver com a nossa cultura, notamos que as próprias pessoas que estão no poder querem estimular a manutenção do orgulho gaúcho tradicionalista ainda hoje em dia.

Achamos irônico o fato de que, por mais que exista esse sentimento relacionado a cultura do gaúcho ser superior as outras, ainda assim, em vez de criar uma própria, decidiram utilizar um estilo arquitetônico canônico num prédio de poder estatal, quando a melhor idéia poderia ter sido simplesmente seguir o tradicionalismo gaúcho. É possível entender porque isso aconteceu no passado – a capital ainda era jovem e necessitava de respeito nacional – mas é engraçado que isso se mantenha até hoje. É contraditório, apesar de ser feito naturalmente.

Portanto, o sentimento de soberania gaúcha aparece calcado no Palácio Piratini numa cultura longínqua, mítica e irreal para o nosso presente, e até mesmo para o nosso passado. É possível dizer que a escolha do Clássico tem ajudado bastante para a construção do mito do nosso suposto passado glorioso gaúcho no imaginário da população aqui presente, ainda hoje. Acreditamos que, após analisarmos, o Palácio Piratini parece um pouco exagerado, e bastante pedante para a sua localização geográfica no mapa do mundo, mas entendemos que isso é um processo de demarcação cultural e de poder necessário para o desenvolvimento histórico do respeito conquistado pelo Rio Grande do Sul.

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